sábado, 18 de dezembro de 2010

Poema Vazio

Eu não me encontro.
Eu só me perco.
Me estilhaço,
me remendo.

O erro sempre presente,
nas perguntas e respostas,
nas esperas.
Na infinidade de coisas segredadas.

De tudo um pouco,
ficou quase nada.
Ficou o que não é,
o que o tempo negou e levou consigo.

Restou um pó de sonho.
Vestigios de medo.
Escombros assombrados.
Melancolia de tarde que antecede o escurecer.

domingo, 21 de novembro de 2010

Assim como as flores

Só falo das coisas que sinto,
Do cansaço desta busca,
Do inchaço destes olhos que os campos amarelecidos têm cegado aos poucos.

É preciso haver um lírio em meio aos girassóis.
É preciso calar a voz que grita a todos que nascemos para seguir o sol.
Quero me perder na brancura de um lírio só.

Desejo que as perdas formem a ponte desse encontro que tem aspirações de milagre,
de flor que nasce no terreno do impossível.
Quero que o mundo inteiro pare e veja,
por alguns instantes que é findado o tempo das esperas.
Num cantinho qualquer eu encontrei um lírio no campo de girassóis.

Quase nada pode ser tão bonito quanto este encontrar-se.
E depois, reconhecer-se, perder a orientação,
fixar-se num ponto só.

Não permita meu Deus!
Que meus olhos se cerrem sem que antes eu veja  a delicadeza singela deste lírio,
que brotou para fazer enxergar ao lado a vista que se perdia na imensidão amarela do horizonte.

Ausências

Eis o tempo dos pesares!
As nunvens lá fora aunciam a previsível insuportabilidade.
Hoje é dia de chuva.
Neste ato o sol ainda que presente não pode evitar que o dia fique cinza.
É chegado o tempo de chover.


Talvez essa tarde não seja suficiente.
Talvez as ausencias sejam por demais contundentes.
Essa chuva mansa com ares de garoa não me engana.
Hoje é dia de tempestade.

A terra seca não suporta mais o brilho do sol.
É preciso fazer chover para quem sabe um dia plantar.
Terra pobre é terra dificil de cultivar.
No manejo de solo de tantas faltas é preciso mais que boa fé para colher.

Cada um semeia seu pedaço de chão como pode.
Vive com os frutos que consegue produzir.
Doces ou amargos, sobreviver é tarefa que dispensa paladar.

Que venha essa chuva.
Que inunde os campos vazios.
Que transborde as dores represadas até que se aprenda a nadar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Das perguntas e respostas

Insisto em repetir esse sim,
sempre sim, quando tudo diz não.
Cansei de ouvir as ironias dessa voz de ares aristocráticos.
Tapei os ouvidos mas o olhos continuam vendo tudo.
Há uma brisa leve em todas as coisas.
Eu não consigo deixar de sentir calor.

É ardor que não passa.
É piada sem sorriso.
Há mais esforço que resultado,
mas não há resultado sem esforço.

Tarefa difícil é persistir numa idéia.
Dizer sim baixinho.
Aceitar períodos de grande silêncio.
Difícil é fixar no sim até que o silencio seja quebrado,
e finalmente as perguntas feitas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Palavra por palavra



Vivo a vida em versos.
Uma estrofe por vez.
Simétricas ou não, seguindo o curso dos próprios acontecimentos.    
Sem retoques.

Quero mesmo é ver o poema todo,
admirar o cuidado das palavras,
vê-lo fazer-se bonito,
encher-se de sentido.
Quero observar as interrogações nas testas,
o silencio de outros tantos,
a compreensão de poucos.

Quero ver as palavras se criarem livres,
voar nessas assas guiadas pelo vento da imaginação.
Quero papel sem fim,
tinta que não se esgota,
alma sedenta,
um poema por dia,
fonte que não se acaba.

Quero mãos ávidas,
relógio por companhia.
Quero papel marcado sobre a mesa,
o dia morrendo para mim, 
e o poema nascendo para todos.




terça-feira, 26 de outubro de 2010

Ingrata Companhia

Trago no peito um desejo agora confesso, um intento pueril e latente.
Tenho nos lábios sede de morte, e na boca um amargo de sangue.
Mas sou covarde. A tristeza essa dama que ora senta-se a mesa e ceia comigo talvez ainda não saiba, mas pretendo que deixe minha casa, e antes fosse somente isso, gostaria mesmo de vê-la moribunda, sua agonia seria valsa aos meus traiçoeiros ouvidos, que de tanto ouvir os conselhos desta sedutora companhia não quer ouvir mais nada.
Foram tantas as vezes que pus a mão à bainha e admirei o reflexo deste instinto assassino no metal cuidadosamente afiado, e me enaltecia com o feito nunca executado de ver o metal frio contrastar com o sangue quente desta bela dona que insiste em querer-me tão mal.
Não fosse a melancolia cálida daqueles olhos castanhos hoje eu poderia esboçar um breve sorriso.
Não sei dizer ao certo, dos tempos felizes tenho poucas lembranças, mas sei que a culpa foi minha, estava frio disso eu tenho certeza, mas eu deixei a porta aberta, as luzes foram se apagando e quando percebi esta estranha foi se achegando ocupando os espaços tão meus, mudando os móveis de lugar, e aos poucos se tornou uma presença constante, dada a falatórios e opiniões, mesmo no mais silencioso dos meus pensamentos.
Despedir-se desta hospede indesejada foi se tornando mais e mais difícil à medida em que ela preenchia minhas horas e falseava a existência da solidão nunca ausente.A verdade é que fui perdendo braços e pernas nestes combates diários, e no fim minha inimiga intima tinha sempre um abraço aguardado ao ente ferido, vencido, mas que se aconchegava neste abraço ignorando as perdas de então.
As chuvas dessa época me ensinaram a cultivar lírios, eu admirava cada pétala como se nunca as houvesse visto embora quase os tivesse decorado um a um.
Eu e meu jardim de lírios. Meus dias tinham lampejos de luz por tê-los comigo, as flores que a alguns presumiam a morte, traziam vida para mim, meus lírios são meus e de mais ninguém, embora ficasse feliz quando olhos curiosos os consideravam digno de admiração.
De todos os defeitos que minha convivente possuía sem dúvida a opinião sobre os lírios era a que mais me incomodava, estava sempre a sussurra que no fundo sem ela por perto meu jardim jamais teria vingado, parcamente um ou outro pequeno e mal dotado lírio teria brotado. Quanta pretensão! Aqueles lírios eram fruto do meu suor mais sagrado e por pior que fosse admitir ela realmente tinha sua parcela de contribuição, não fosse eu me sentir tão absolutamente transbordante àquela presença jamais teria intuído ir ao quintal e derramar sobre aquele pedaço de chão um pouco de todos os excessos, de fato  não sei se o solo estaria pronto a produzir qualquer coisa.
Meus lírios brotaram da minha fraqueza, da minha incapacidade de suportar, dessa perca interminável de me encontrar em algum espaço vazio no meio dessa imensidão.
Não tenho facilitado as coisas aqui nesta casa, a convivência com essa conhecida estranha tem perpassado dias difíceis, mas temos uma relação sólida, as vezes acordo no meio da noite vindo de um sono preocupado, na iminencia de que tenha ido embora, partido e então o desespero esse senhor meio descompensado e que tem sempre um sorriso irônico no rosto passa pela minha janela acena com o chapéu como se só aguardasse uma vaga na minha morada.
Tenho calafrios nestas noites e fatalmente não durmo mais, fecho as portas e janelas no afã de impedir que mais um desafortunado visitante venha sem dia nem hora para voltar.
Não quero mais hospedes. Minha morada tem estruturas fracas, cômodos pequenos, poucos e parcos mantimentos, não preciso que mais alguém venha e por mais indesejável que seja me faça acreditar que não estou só, e me obrigue a encher os ares de saudade quando este se for, por mais que eu almeje que este o faça.
Todos os meus dias eu tenho acordado e preparado calmamente um discurso sobre a necessidade vital de que minha companheira se vá, tento convencer a mim mesmo que será melhor assim, melhor para os dois e no fim do dia já não tenho mais forças para dizer mais nada, nem mesmo para ser hostil com essa mulher de má fama, que sob todos os meus protestos senta-se comigo na varanda na penumbra de todas as horas, que fertiliza o terreno dos meus pequenos e amados lírios. Não posso mandá-la embora! Não posso ver essa nuvem se dissipar e encher tudo de luz quando ela se for. Tenho medo que os lírios não sobrevivam, tenho medo de abrir os olhos tão acostumados a pequenos feixes de luminosidade e me deparar com a metade de mim que tenha sido deixada.
Temo mais ainda, a figura quasímoda, incompleta, refletida no espelho repetindo que não expurguei nada, apenas tornei-me menor.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fragilidade


São tantos e diminutos pedaços agora.
Não brilha mais como antes.
A pedra de brilho raro agora não refrata mais as cores vivas de outrora
Não edifica mais nada, também quase não fere.
A coisa deu lugar a substancia, matéria morta.
Ninguém vence o inevitável.
É Necessário juntar os restos, tantas quantas forem necessárias as vezes em que tudo se partir.
 Todo cristal não tem outro fim senão partir-se um dia
Fosse feito metal, nem mesmo o fogo o faria perecer
O ferro talhado no fogo mais forte se torna.
Nascera cristal, fadado a fragilidade, a partir-se.
Lá está ela a pedra, lá está ele o tropeço, e os pedaços estão por toda a parte.
Pequenos, ninguém os vê até que se fira e a dor do outro passe a ser sua própria dor.


domingo, 19 de setembro de 2010

Devocional




Deus é poesia pura, a mais pura de todas elas. O que dizer dessa saudade do que eu nem sei, dessa certeza do que não se vê, dessa amizade que nem a dor separa, mas faz o caminho inverso, aproxima, faz viver o que já era morto. Pela fé todos os contrários parecem fazer sentido, a lágrima cura mais que o sorriso, a dor faz amar mais que o próprio amor, o que se toca se perde e se eterniza o que nunca se viu, a morte vira vida, e a vida não é mais a mesma, não sou mais eu quem vivo, não só vivo agora, mas também não vivo mais só.
De repente o rascunho virou obra, as palavras ganharam sentido, a prece virou fé e o amor finalmente encontrou um lugar.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

DEIXA





A vida é bem mais do que as notas da canção pretendem.
Eu sei,
mas me deixa pensar que não, para que meu coração acredite que sim.
Deixa tentar fazer sorrir esse verso que só quer chorar.
Deixa entrar estas notas.
Deixe que eu me convença das verdades que usei para convencer a todos.
Eu só preciso de um pouco de inspiração.
Deixa eu deixar essa tarde um pouco menos cinza. 
Deixa que eu diga o que a vida pode ou não ser, mesmo que eu não saiba.
Deixa que eu pare e pense por um momento,
e se nesse momento que é meu, eu pensar em parar, 
Deixa, só me deixe.
Deixa que eu fique só.
Deixa que eu seja apenas o que eu pareço.
Deixa que a vida cuida.
Deixa que eu verse com calma as estrofes dessa prece, dessa minha oração.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Rasuras

 

Todo dia escrevo um trecho novo dessa minha história.
Vida a fora vou gastando meu nanquim.
Narração que se constrói na medida em que o autor se perde.
Palavras mortas abrindo portas à ressurreição.
Versos grafados e assinados pela impressão do próprio ser, 
que acaba sendo um pouco menos quando a historia acontece.
As horas perpassando os dias.
Os dias os anos. 
Os anos a vida inteira.
Cada traço de tinta é menos do que já fora,
e mais de tudo quanto jamais se perderá.
É o legado que se construiu.
Letras, contornos, pontos e rabiscos.
O único tesouro escondido,
num papel roto qualquer. 




sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Silêncio

Quando as palavras são insuficientes,
é que não sou mais nada além de um grande vazio.
Se simplesmente não há o que dizer,
Que eu seja só silêncio então.
Gritar não é a única forma de sentir dor.

Brilham as estrelas no alto dos céus.
Dormem os homens.
Cada palavra não dita agora ecoa,
aos ouvidos daqueles que não se eximiram de deixá-los abertos.

Tudo é cena e cenário
aos que dormem com os olhos abertos.
A lágrima é sonho e o sorriso escravidão.

Amanhã,
Olhos inchados,
Sol na janela.
Hoje silencio e solidão.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Restos

Esse Caminhar entre as gentes,
faz pensar que sou gente também,
faz caminhar seguindo a marcha,
sem pensar qual é o destino.

O ritmo cega a alma.
A lógica ausente leva a esquecer,
a incongruência desse andarilho de pés descalços;
Incompleto, imperfeito...
Tento não lembrar que não deixei pegadas para trás,
quero mais ainda ignorar as partes minhas que tracejam a terra batida,
por pés tão machucados.

Um amontoado de ser deixado,
forçado ao abandono, que era e simplesmente não é mais.
Quisera ser leve, voar,
sem ter de partir-me, sangrar,
sem ter de perder-me para enfim me encontrar.

domingo, 4 de julho de 2010

eu, verso meu

Quando tudo é silêncio
é que finalmente as vozes eclodem,
vagueiam no ar, preenchem os espaços,
que sou eu.
Porque também sou um pouco desse vazio,
dessa solidão, dessas linhas.
Estes versos são um espasmo, um lampejo na escuridão,
é um pouco de tudo,
que tanto dói em mim, e parece não doer em mais ninguém.
é uma lágrima na penumbra,
que rega meu jardim,
Por hora terra nua, um dia se fará flor,
Um dia hei de sorrir.
Talvez eu faça um poema.
Talvez minhas palavras soltas façam sentido para mais alguém.

domingo, 23 de maio de 2010

Asas de papel

Acho que fui seduzida pelo poder que há nestas palavras, que se não lidas, existem como se nunca tivessem existido, e pela beleza que há ainda, quando estas coexistem com o silêncio.
Mas o que realmente fascina, transcende, são as asas de Ícaro de que me revisto quando a tinta enegrece o papel e o distingue de todos os outros. Porque também não sou mais a mesma ao dizê-las, e então o casulo se desfaz para a construção de tantos outros.
São destes diminutos espaços em que vôo é que provém a força necessária para que nenhuma amarra seja suficientemente forte para me impedir de voar novamente, de bater as asas por alguns breves instantes. Porque sempre haverão casulos rompidos na tinta que escreve e no papel que docilmente a acolhe, e recebe com tanto aconchego esses gritos grafados a duras penas.
Assim como meus pés deixam suas pegadas, indicando o caminho por onde passei que essas mal traçadas linhas denunciem o percurso de estradas tortuosas que conduzem às vielas dessa alma de asas atrofiadas, mas, que nunca perdeu a vontade de voar, ainda que seja sustentada por asas de papel.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A menina por trás dos óculos.

Sonolenta a mulher acorda, estende a mão ao criado mudo,
os óculos lhe pesam ao rosto.
A menina regateia na cama, levanta, sorri para o espelho,
se acomoda confortavelmente atrás dos óculos.
A mulher anda apressadamente, engole o café,
sobe no salto, como que querendo desesperadamente crescer.
A menina saltita com os pés descalços, depois os recolhe confortavelmente a um chinelinho de borracha.
A mulher espera o ônibus, tropeça, esbraveja, maldiz a sorte.
A menina pede perdão.
A mulher tão imersa em seus vazios.
A menina com o coração tão cheio de sonhos.
A mulher não sorri muito, a menina também não.
A mulher tão cansada, tão sem para quê da existência.
Já não tem mais paciência, porque a menina só quer brincar,
brincadeira de ser feliz.
A mulher quer entender.
A menina tão cheia de perguntas que se respondem com meias verdades.
Por fora a mulher.
A mulher só caminha.
A mulher caminha só.
A menina só quer voltar, ir finalmente para casa.
A menina por trás das lentes dos óculos de aros metálicos.
E a mulher que vê através delas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Conclusões

Não estou bem certa se sou parte dessa interrogação gigante ou se essa é quem faz parte de quem eu ilimitadamente sou. Meus pés ainda estão procurando o ritmo para caminhar, eles fatalmente não possuem a capacidade de alcançar a velocidade com que meu pensamento viaja a tantos e diferentes lugares. As possibilidades são tão infinitas e meus limites tão diminutos. Essa infinidade de porquês, e essa certeza de que nada é impreterivelmente certo a menos que você acredite realmente. Não sou um turista nesse mundo, um observador sem dúvida, e ainda me impressiono e creio que poucas coisas ainda me comoverão como a capacidade que temos, apesar de toda fragilidade, de fazer brotar as mais lindas flores nos campos áridos da dor. Se tivesse um único desejo para toda uma vida, seria convictamente que tudo parasse de doer, assim, tanto como dói, mas ainda me curvo ao sacrário de cada dor, por que sei que é esse o único momento em que tudo faz sentido, mesmo na contramão de todas as coisas. Só há divindade na alma humana quando a dor é convidada e tem lugar na mesa de jantar, afinal, um belo dia ela resolve que é tempo de partir e partilhar com outras pessoas a oportunidade de crescer.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Caminhante



Não temo o tempo, a menos que ele não passe. Tudo que se eterniza me apavora. Na verdade, não me causa angústia que o correr dos dias corte o meu rosto a fios de navalha e lhe confira outras feições, nem tão róseas, nem tão admiráveis. Me aterroriza tão mais o esvaziamento das ausências, a persistente inexistencia de qualquer espectro do espírito.

Qual é a graça de se criar charadas que tendem a não ser entendidas? O esmero e a dedicação do artista ecoam no vazio quando não se aprecia a beleza que há em suas palavras. O mesmo ocorre quando reflexo fala mais alto, perder sem a encantadora observãncia de tudo quanto se ganhou nas paragens do caminho. Me castra a esperança compreender que tantos caminhante têm os olhos cerrados e que nunca irão ver que o horizonte não se finita, esteja em que ponto do caminho estiver, mas depois de algumas longas passadas se deixa de tentar alcançá-lo, pois nem toda verdade se encontra naquilo que se vê.

Estamos na era das impressões, tudo é sensacional, tudo lúdico antevendo a própria miséria, melhor seria nunca terem impermeabilizado a alma, talvez a borboleta não seja forte o suficiente para sair deste cazulo. Isto realmente seria cômico se não fosse a narração da tragédia humana.

Ah! Essa humanidade encantadoramente dotada de um infinito de possibilidades emergentes de suas sacras lilmitações. Havia de ser a mais bela das criações não fosse a vã ingenuidade de tornar eterno tudo que se esvai, ao passo que conota de efemeridade o pouco que nunca se acaba.

De certo que não acorda um dia e simplismente se apercebe deste paradoxo, mas também não se vive toda uma vida num único instante. Há que se resignar frente a infinidade de tardes debruçadas em janelas, às penumbras das madrugadas e esses infinitos solilóquios que não se esquivaram das belas, enigmáticas, e porque não dizer dolorosas temáticas. O escárnio é parte do processo, um dos tantos que ora preconizam um recomeço, ora anunciam que é tempo de parar.

É uma caminhada que se faz só, por estrada de solo arenoso, árido, instável demais aos olhos dos viajantes que estão aqui à passeio, passagem vazia, sem sentido pede estrada se declives, de planícies retilíneas, próprias de quem não tem o hábito de olhar para baixo ou para os lados e quer enxergar apenas o horizonte desconsiderando infantilmente a distância que os separa.

São silenciosos e diminutos os passos que nos guiam para algum sentido, e não têm outro destino, senão para o outro e para o que somos, para dentro de nós mesmos, origem e fim de todas as coisas.

Afogar-se num cálice de sicuta é tarefa de certeza, típica das convicções de quem não proferiu uma só resposta, mas, fez as perguntas certas e lançou-as ao vento para que pudessem voar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010



Que medo é esse que vive a fisgar meu calcanhar?
Que medo é esse que amarra minhas mãos?
Que medo é esse destes versos tortos?

De que espécie de ilusão estou querendo me revestir?
Fujo do limite que me detém?
Ou me detenho nas entranhas dos meus limites?

Onde vai parar esse jogo de corpo?
Essa involuntariedade, que compele,
avança e retrocede.

É uma parte do oceano,
num buraquinho na praia.
E quanto medo há nisso meu Deus!