quarta-feira, 30 de março de 2011







A vida não cabe em mim, nessa parcela de ser, nesse meu jeito estranho de ser gente. A vida foi ficando espessa, se agigantando aqui dentro e tomou formas que não me comportam. A vida tende a ser externada antes que me parta ao meio. A vida liquefeita escorre pelas mãos. Não pode se conter. É um jogo de conjunto onde me contenho, mas a vida não pode ser contida. Nem mesmo este imenso vazio poderia abrigá-la, os alforjes teriam de ser infinitamente maiores. A grandeza da vida não cabe nesse pequeno coração tão cheio de vazios, que os passantes foram deixando, e agora, estou cheia de estar tão vazia, de me sentir tão preenchida de absolutamente nada. A vida misturada a um vazio inconsistente gera esse nó na garganta, essa urgência em dizer o que quer que seja, como se faltasse espaço nessa vida para mim mesma, como se eu precisasse sair de mim para tentar lembrar quem eu sou. Mas sou também um pouco dessa vida e muito desse vazio. Mas sou ainda outras tantas coisas, que não dá para explicar, que não cabe no espaço da cabeça das pessoas, mas que está ai, em algum lugar a quem queira um dia saber.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Encontrar-se


Todo começo com seu fim,
todo encontro com seus desencontros
toda expectativa numa chance de acerto                                           

Voce não é o meu verso preferido,
nem mesmo pretendi escrevê-lo um dia,
mas preciso dizê-lo, assim como tú és,
sem métrica ou rima.

Se o destino já te havia dito,
então és meu, é sina.
Mas se só te grifo no desalento,
é aceno,
depois é tempo, é tempo.

Mãos nunca se unem quando escrevem,
mas no verso sempre fica muito de um pouco,
que sou eu, que é seu.

Nesse jogo de palavras as mãos não se tocam, nem se vêem.
Só o papel fala, dobrado, guardado,
no silêncio de um sonho bonito,
que tem tempo e hora contados,
que não pode viver depois do amanhecer.