domingo, 21 de novembro de 2010

Assim como as flores

Só falo das coisas que sinto,
Do cansaço desta busca,
Do inchaço destes olhos que os campos amarelecidos têm cegado aos poucos.

É preciso haver um lírio em meio aos girassóis.
É preciso calar a voz que grita a todos que nascemos para seguir o sol.
Quero me perder na brancura de um lírio só.

Desejo que as perdas formem a ponte desse encontro que tem aspirações de milagre,
de flor que nasce no terreno do impossível.
Quero que o mundo inteiro pare e veja,
por alguns instantes que é findado o tempo das esperas.
Num cantinho qualquer eu encontrei um lírio no campo de girassóis.

Quase nada pode ser tão bonito quanto este encontrar-se.
E depois, reconhecer-se, perder a orientação,
fixar-se num ponto só.

Não permita meu Deus!
Que meus olhos se cerrem sem que antes eu veja  a delicadeza singela deste lírio,
que brotou para fazer enxergar ao lado a vista que se perdia na imensidão amarela do horizonte.

Ausências

Eis o tempo dos pesares!
As nunvens lá fora aunciam a previsível insuportabilidade.
Hoje é dia de chuva.
Neste ato o sol ainda que presente não pode evitar que o dia fique cinza.
É chegado o tempo de chover.


Talvez essa tarde não seja suficiente.
Talvez as ausencias sejam por demais contundentes.
Essa chuva mansa com ares de garoa não me engana.
Hoje é dia de tempestade.

A terra seca não suporta mais o brilho do sol.
É preciso fazer chover para quem sabe um dia plantar.
Terra pobre é terra dificil de cultivar.
No manejo de solo de tantas faltas é preciso mais que boa fé para colher.

Cada um semeia seu pedaço de chão como pode.
Vive com os frutos que consegue produzir.
Doces ou amargos, sobreviver é tarefa que dispensa paladar.

Que venha essa chuva.
Que inunde os campos vazios.
Que transborde as dores represadas até que se aprenda a nadar.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Das perguntas e respostas

Insisto em repetir esse sim,
sempre sim, quando tudo diz não.
Cansei de ouvir as ironias dessa voz de ares aristocráticos.
Tapei os ouvidos mas o olhos continuam vendo tudo.
Há uma brisa leve em todas as coisas.
Eu não consigo deixar de sentir calor.

É ardor que não passa.
É piada sem sorriso.
Há mais esforço que resultado,
mas não há resultado sem esforço.

Tarefa difícil é persistir numa idéia.
Dizer sim baixinho.
Aceitar períodos de grande silêncio.
Difícil é fixar no sim até que o silencio seja quebrado,
e finalmente as perguntas feitas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Palavra por palavra



Vivo a vida em versos.
Uma estrofe por vez.
Simétricas ou não, seguindo o curso dos próprios acontecimentos.    
Sem retoques.

Quero mesmo é ver o poema todo,
admirar o cuidado das palavras,
vê-lo fazer-se bonito,
encher-se de sentido.
Quero observar as interrogações nas testas,
o silencio de outros tantos,
a compreensão de poucos.

Quero ver as palavras se criarem livres,
voar nessas assas guiadas pelo vento da imaginação.
Quero papel sem fim,
tinta que não se esgota,
alma sedenta,
um poema por dia,
fonte que não se acaba.

Quero mãos ávidas,
relógio por companhia.
Quero papel marcado sobre a mesa,
o dia morrendo para mim, 
e o poema nascendo para todos.