Sonolenta a mulher acorda, estende a mão ao criado mudo,
os óculos lhe pesam ao rosto.
A menina regateia na cama, levanta, sorri para o espelho,
se acomoda confortavelmente atrás dos óculos.
A mulher anda apressadamente, engole o café,
sobe no salto, como que querendo desesperadamente crescer.
A menina saltita com os pés descalços, depois os recolhe confortavelmente a um chinelinho de borracha.
A mulher espera o ônibus, tropeça, esbraveja, maldiz a sorte.
A menina pede perdão.
A mulher tão imersa em seus vazios.
A menina com o coração tão cheio de sonhos.
A mulher não sorri muito, a menina também não.
A mulher tão cansada, tão sem para quê da existência.
Já não tem mais paciência, porque a menina só quer brincar,
brincadeira de ser feliz.
A mulher quer entender.
A menina tão cheia de perguntas que se respondem com meias verdades.
Por fora a mulher.
A mulher só caminha.
A mulher caminha só.
A menina só quer voltar, ir finalmente para casa.
A menina por trás das lentes dos óculos de aros metálicos.
E a mulher que vê através delas.
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