quarta-feira, 30 de março de 2011







A vida não cabe em mim, nessa parcela de ser, nesse meu jeito estranho de ser gente. A vida foi ficando espessa, se agigantando aqui dentro e tomou formas que não me comportam. A vida tende a ser externada antes que me parta ao meio. A vida liquefeita escorre pelas mãos. Não pode se conter. É um jogo de conjunto onde me contenho, mas a vida não pode ser contida. Nem mesmo este imenso vazio poderia abrigá-la, os alforjes teriam de ser infinitamente maiores. A grandeza da vida não cabe nesse pequeno coração tão cheio de vazios, que os passantes foram deixando, e agora, estou cheia de estar tão vazia, de me sentir tão preenchida de absolutamente nada. A vida misturada a um vazio inconsistente gera esse nó na garganta, essa urgência em dizer o que quer que seja, como se faltasse espaço nessa vida para mim mesma, como se eu precisasse sair de mim para tentar lembrar quem eu sou. Mas sou também um pouco dessa vida e muito desse vazio. Mas sou ainda outras tantas coisas, que não dá para explicar, que não cabe no espaço da cabeça das pessoas, mas que está ai, em algum lugar a quem queira um dia saber.

2 comentários:

Mar disse...

Oi, Francielle, boa noite-madrugada!!
Minha querida, sou definitivamente seu fã.
Nenhuma das concepções de vida cabe na pequenez de nosso corpo. Nosso ser, como parcela da vida, também não cabe em nós. Por isso a alma se inquieta, como num poema maravilhoso que li recentemente. O quão infinitos teriam que ser os alforjes, para conter as multifacetadas manifestações da existência?! Demais disso, como você diz com sua maestria habitual, os passantes ainda nos deixam vazios que mais roubam espaço vital, que mais nos aturdem, nós que já nos equilibramos num milésimo de segundo de presente, sobre a imensidão do passado e o temor atroz da brevidade do futuro.
Sabe, Francielle, suas visões existenciais me encantam. Às vezes eu a leio como quem está diante de um grande abismo, como num poema que escrevi. Penso que a única minimização, o único paliativo da condição aí apresentada, é o amor. Não, porém o amor de conformados, mas o amor frutífero de pessoas que selam entre si o pacto de uma vida frutífera a dois, tremendamente recompensadora, tremendamente inspirativa para os outros. É muito, muito, muito difícil achar o par. Mas não haverá na existência coisa melhor que um amor assentado sobre um projeto de fazer a vida projetar benesse.
Eu amo esse blog.
Um abraço carinhoso
Lello

monologo de nanquim disse...

Querido Lello,

Amo muito mais as suas visitas e as palavras que indicam sua passagem. Seus comentários tão recheados elogios são sempre um conforto para essa alma inquieta e tão cheia de "por ques". Ainda chegará o dia em que meus versos poderão traduzir o amor de que vc tanto me fala, mas nos versos assim como na vida tudo é tempo! Eu sei que não me canso de olhar a vida através dos teus olhos de poeta, meus versos são mais cinzas eu sei, mas essa caminhada está longe do fim, estou levando um bocado de fé e um tanto de esperança em meus bolsos, para ver encontrar esse lugar de benesse e sentido que vc tão bem define como amor!! Um grande abraço meu amigo!